quarta-feira, 18 de maio de 2011
Melhore o desempenho escolar melhorando a memória
A neurociência tem muito a contribuir para a educação e muito tem sido descoberto nos últimos anos. De acordo com um cientista ganhador do prêmio Nobel, Eric Kandel, “Aprendizagem é como nós adquirimos informação, e memória é como nós armazenamos essa informação. Educação é sobre melhorar a aprendizagem, e neurociência é sobre tentar entender como a aprendizagem e a memória ocorrem. Memória é a cola que liga toda a nossa vida mental.”
Uma habilidade muito relevante para a sala de aula é a memória de trabalho, que representa a habilidade cognitiva de lidar com vários pedaços de informação simultaneamente, como somar números ou escolher palavras que rimam. A memória de trabalho é o alicerce da aprendizagem, pois determina a capacidade de processar informação, seguir instruções e acompanhar as atividades em sala de aula. Segundo pesquisadores, ela prediz o desempenho escolar de forma muito mais robusta do que o QI, e é menos influenciada pelo nível socioeconômico.
As habilidades de memória de trabalho se desenvolvem ao longo da infância, atingindo níveis adultos por volta dos 16 anos. “Mas em qualquer idade, existe uma faixa muito ampla”, de acordo com a pesquisadora Tracy Alloway, da Universidade de Stirling, no Reino Unido. Suas pesquisas indicam que num grupo de crianças com 10 anos de idade, algumas estão com habilidades parecidas com crianças de 5 anos e outras com as de 15 anos de idade.
Mesmo no contexto de crianças com necessidades especiais de aprendizado esse assunto é importante. Crianças com TDAH (transtorno do déficit de atenção com hiperatividade), dificuldade de aprendizado de leitura ou matemática, e transtornos de autismo compartilham uma fraqueza generalizada em memória de trabalho. Mesmo neste grupo, aquelas crianças que têm a memória de trabalho mais intacta tendem a ter melhor desempenho acadêmico.
Uma outra linha de pesquisa, desenvolvida por Kirby Deater-Deckard, professor de psicologia na Viginia Tech, nos EUA, analisa o papel da família no desenvolvimento da memória de trabalho. Crianças de lares caóticos, caracterizados por barulho, desorganização e horários erráticos, têm pior desempenho em tarefas de memória de trabalho, o que está relacionado a dificuldades escolares, do que crianças de lares menos caóticos.
A memória de trabalho não melhora espontaneamente em crianças com dificuldades escolares, mas pode responder a intervenção. Um estudo recente demonstrou que um programa de treinamento usando jogos de computador específicos melhorou a memória de trabalho, o QI, e resultados na aprendizagem de forma muito mais significativa do que o suporte educacional tradicional. E um programa similar obteve ganhos substanciais entre crianças com dislexia e autismo.
Pesquisas recentes têm mostrado que o cérebro utiliza um processo neuroquímico muito complexo para converter memória de curto prazo, como a memória de trabalho, em memória de longo prazo e que algumas áreas o cérebro, como o hipocampo tem papel crucial nesse processo. Basicamente, esse processo consiste em ativar certos genes para criar novas conexões entre os neurônios e, pela forma com que foi projetado, apenas as coisas significativas, prazerosas e importantes são lembradas (veja também o artigo Como nossa memória funciona). Portanto, podemos dizer que a função da educação é moldar o cérebro e isto é o que ocorre no cérebro dos estudantes quando o educador é bem sucedido.
Fonte: http://www.cerebromelhor.com.br/
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